Sebo da Esquina
Naquele tempo, o Sebo da Esquina parecia mais um porão, mal iluminado, úmido, escuro, e era no fundo, onde o ar ficava quase irrespirável, que estavam os livros que prestavam. Empilhados no chão, alguns tão mofados e empoeirados que me sujavam as mãos ao pegá-los, eu gostava de ir desmontando as pilhas aos poucos, lendo cada título, avaliando o estado de cada um, os riscos, as dobras, orelhas, páginas rasgadas, dava para deduzir em que época foram largados ali. Olhei em volta e não vi ninguém, só a luz do abajur antigo iluminando o rapaz que cuidava daquilo, tão parecido com seu pai que era como se nunca tivesse saído daquele balcão. Voltei-me para minha pilha de livros, a cada livro tirado me aparecia outro, passei rápido um a um, até que fiquei com este livro de bolso, muito parecido com aquelas ficções da Europa-América.
Não havia título, na capa um desenho escuro que não consegui decifrar, abri na primeira página: “Naquele tempo, o Sebo da Esquina parecia mais um porão, mal iluminado, úmido, escuro...”.
Pedro Marques Cancello
Desenho de M.C. Escher
Muito bom o texto... Viajei nas palavras, que descrevem tão bem a cena. Parabéns.
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