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quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Com as 4ªs e 5ªs séries lemos o "Barba Azul"...


Leiam, é um terror clássico de Charles Perrault:


Volta ao Mundo em 52 Histórias : “Barba Azul”

            Era uma vez um homem muito rico, chamado Barba Azul, que possuía mansões suntuosas na cidade e no campo e podia comprar tudo o que desejasse, faltando-lhe apenas uma esposa.

            Uma vizinha sua, aristocrata de alta estirpe, tinha duas filhas, e Barba Azul lhe perguntou se uma delas não o aceitaria como marido. Ambas se recusaram terminantemente a se unir a um homem que tinha a barba azul e que, segundo se dizia, casara-se várias vezes e ninguém sabia que fim levaram suas mulheres.

            No entanto, as duas irmãs aceitaram seu convite para passar uma semana em uma de suas casas de campo, entretendo-se com festas, bailes, piqueniques, caçadas, pescarias e jogos. Divertiram-se tanto que no final da estada a caçula começou a achar que aquela barba azul não era tão horrível e, quando voltou para a cidade, resolveu se casar com o ricaço.

            Um mês depois ele lhe comunicou que ia viajar para tratar de um negócio. “Mas você não precisa ficar trancada em casa, meu bem”, falou. “Pode sair à vontade ... Chame sua irmã Ana para lhe fazer companhia e procure se distrair”.

            Antes de partir lhe entregou um molho de chaves, especificando a função de cada uma. Quando chegou a uma chave bem menor que as outras, explicou: “Esta aqui é da porta do gabinete que fica no fundo da galeria, mas você não deve usá-la. Se abrir aquela porta, terá que enfrentar minha fúria”.

            A jovem esposa prometeu fazer tudo como ele dizia. Nos dias que se seguiram recebeu muitas visitas, passeou com sua irmã, desfrutou das maravilhas que tinha em casa. Mas não conseguia vencer a curiosidade e só pensava no que o misterioso gabinete poderia encerrar.

            Uma tarde, enquanto Ana se ocupava de alguma coisa em outra ala da mansão, ela pegou a chave pequena, foi até o fundo da galeria e abriu a porta proibida. Ao entrar, não enxergou nada, mas pouco depois, quando sua vista se acostumou com a penumbra, percebeu manchas de sangue no chão. Dirigiu o olhar para as paredes e recuou, reprimindo a custo um grito de pavor. Pois ali viu pendurados os corpos de várias mulheres; todos com a garganta cortada. Eram as esposas que Barba Azul degolara, uma após outra.

            O susto foi tão grande que a jovem deixou cair a pequena chave. Fazendo um esforço sobre-humano para se controlar, apanhou-a, fechou a porta e voltou para seu quarto, onde tombou desmaiada.

            Quando recuperou a consciência, notou que a chave estava manchada de sangue. Procurou limpá-la, lavando-a, areando-a, esfregando-a com vigor, mas não conseguiu remover a marca reveladora.

            Naquela noite Barba Azul regressou inesperadamente, alegando que tivera que encurtar a viagem, porém só na manhã seguinte reclamou o molho de chaves. Tão logo o recebeu da mão trêmula da esposa, constatou a falta de uma chave. Nem precisava perguntar nada, pois o nervosismo da jovem a denunciava; mesmo assim, ele falou:
            “Onde está a chave do gabinete?”
            “Acho que... que a deixei lá... lá ... em cima ...”, ela gaguejou, tremendo dos pés à cabeça.
            “Vá buscá-la!”.

            Relutante, a moça obedeceu, e antes mesmo de pegar a chave o marido viu a mancha. “Por que este sangue?”, quis saber, fitando-a com olhos ferozes.

            “Juro que não sei...”, a pobrezinha murmurou.

            “Pois eu sei! Você não resistiu a tentação de entrar no gabinete, contrariando minha ordem! Muito bem, já que queria tanto entrar lá, agora vai fazer companhia as outras!”
            A moça se lançou a seus pés, implorando-lhe piedade com tal fervor que comoveria até uma rocha, porém o coração de Barba Azul era mais duro que pedra. “Você precisa morrer!” Chegou sua hora!”, ele rugiu.
            “Conceda-me ao menos quinze minutos de vida, para que eu possa rezar!”
            “Assim seja!”, Barba Azul declarou de má vontade.
           
            Reunindo todas as suas forças, ela voltou para seu quarto, chamou Ana e lhe contou o que acontecera. Depois lhe pediu: “Por favor, suba até o alto da torre e me avise quando avistar nossos irmãos, pois eles prometeram nos visitar hoje”.

            Mal esperou Ana subiu a escada e já lhe perguntou: “Está vendo alguma coisa?”
            “Só vejo o sol dourando a terra e o verde dos campos”, respondeu a irmã, desolada.

            A pergunta e a resposta se repetiram várias vezes, enquanto Barba Azul subia a escada lentamente, degrau por degrau. Ao cabo de alguns minutos, Ana informou: “Vejo ao longe uma nuvem de poeira!”. 
            “São nossos irmãos?”, a caçula falou, cheia de esperança.
            “Não ... É apenas um rebanho de carneiros ...”
           
            Ouvindo os passos do marido, cada vez mais próximos, a moça perguntou novamente: “E agora? Está vendo alguma coisa?”.
            “Sim, sim! Vejo dois cavaleiros! Deus seja louvado! São nossos irmãos!”, Ana exclamou, acenando para os rapazes: “Depressa! Depressa!”.

            Nesse momento Barba Azul entrou no quarto e, surdo às súplicas da esposa, que mais uma vez se jogou a seus pés, agarrou-a pelos cabelos. “Não adianta chorar”, declarou. “Você tem que morrer!” Quando ia lhe cortar a garganta, os dois irmãos interromperam no aposento e cravaram suas espadas no coração do malfeitor.

            Como Barba Azul não tinha filhos, a jovem viúva herdou sua fortuna imensa. Ela deu uma generosa soma a Ana, para que pudesse se casar com um fidalgo de seu nível, e outra aos irmãos, para que pudessem subir de posto no exército. O resto do dinheiro, gastou-o com seu segundo marido, um moço bom que a ajudou a esquecer as aflições vividas ao lado do terrível Barba Azul.

Charles Perrault

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